Partilhamos mais três trabalhos resultantes do desafio lançado ao grupo do secundário. Boas leituras!
Amanheceu.
O céu
brilhava
muito mesmo,
mas eu
acordei triste.
Acordei
triste por estar sozinha.
Eu e
ninguém, apenas eu e
somente
eu…eu de novo, eu e
apenas eu…a
verter ansiedade e solidão por
estar
novamente a viver mais um dia comigo mesma.
Porém levantei-me,
apesar de frustrada tinha de aprender a viver.
Fui para a
escola com os meus fones postos e um
sorriso
forçado. O que me custava era estar nas aulas, porque por
mais que
tentasse não conseguia concentrar-me. O meu âmago fragilizado e a minha
consciência
não o deixavam. Quando bateram as 12 horas fui almoçar. Apesar de detestar
a escola
nova, gostava da hora de almoço, pois era quando podia ouvir novamente música.
Não gostava
muito do meu curso… ou pelo menos tinha imensas dúvidas se era o que
queria
verdadeiramente…ou o que os outros queriam e me forçavam a gostar… Entrei em
aulas novamente.
Nessa mesma
tarde, a minha professora de inglês faltou e tivemos uma substituição de uma
professora bastante diferente…
Ela tinha
gostos não muito comuns, com os quais me identificava bastante, tinha o cabelo
vermelho, igual ao meu
e vestia-se
maioritariamente de preto e amarelo, que por sinal eram as minhas cores
preferidas, de facto era muito bonita.
Começou por
se apresentar, disse-nos que se chamava Viollett e que de facto não era uma
professora, mas sim, uma psicóloga.
Fiquei em
pânico, comecei a suar e as lágrimas vieram-me aos olhos, pois apesar de
ninguém saber tinha muito medo de psicólogos.
Acho que a
Viollett se apercebeu disso, pois olhava várias e várias vezes para mim, até
decidiu dizer algo que precisava de ouvir.
“Não se preocupem meus caros, só venho aqui
falar convosco sobre a VIDA, apenas quero saber o vosso nome e idade e nada
mais!”
Quando
acabou de falar ela piscou-me o olho, fiquei bastante desamparada e até me
questionei se de facto aquela piscadela estranha era mesmo para mim!
O primeiro
tempo de aula foi chato e repetitivo, o João, um rapaz da minha turma até tinha
adormecido, porém no segundo tempo de aula a
psicóloga
falou de assuntos como a ansiedade social, sentirmo-nos sozinhos, pressão
familiar, escolar e muito os outros assuntos que me tocam bastante e são
importantes falar, acrescentou:
“Às vezes
sentimo-nos tristes e solitários… a realidade é mesmo essa, só nós sentimos, porém
não estamos... Não podemos ser egoístas connosco mesmo, porque nem tudo é culpa
nossa!”
Naquele
mesmo instante, foi como se o céu voltasse ao seu verdadeiro brilho, o brilho
que eu precisava de voltar a ver… Desfiz-me em lágrimas e a Viollett simplesmente
voltou a
piscar-me o olho e saio da sala. O Francisco, um menino que na altura era da
minha turma, veio ter comigo e simplesmente deu-me a mão e abraçou-me…
Foi naquele
dia que… Faz hoje precisamente vinte e quatro anos que conheci o meu atual marido.
Foi exatamente naquele dia que mudei comportamentos e me aceitei, tudo graças a
ela…
Quanto à
Viollett, não sei o que dela é feito, já a tentei encontrar em redes sociais,
tentei ir a antigas escolas onde foi psicóloga. No entanto, a verdade é que nem
eu nem o Kiko a encontrámos, o certo é que até hoje contámos essa história aos nossos filhos e tratámo-la como um milagre. Se és um Viollett ou a própria Viollett... Muito obrigada!
Ana Margarida Silva, 10ºVC
Desenho.
No quadro.
Cintilava, pois é especial.
Para a menina de cabelos loiros, quase
brancos,
e para o seu avô, que fica encantado com
o sorriso da sua neta mais nova.
Sempre, passaram
os seus tempos livres juntos, a ver a arte que um dia foi criada por um pintor
já não muito conhecido. A sua arte era verdadeiramente amada por aquela
criança.
Aquela mesma
criança que um dia cresceria e tornar-se-ia uma jovem amante de desenho e
pintura e, pelas suas palavras, seria uma grande artista como o seu velho avô
que tanto ama e venera. Aquele homem, que tanto ama a sua neta, ensina-a a
apreciar a arte que um dia desenhava com tanto apreço e instrui aquela menina
loira sorridente, para cada dia ser melhor.
Os dias foram
decorrendo e, quanto mais tempo passava, mais aquela dupla se amava e acabaram
por se tornar os companheiros de todos os dias. Como parceiros de crime, eles,
nunca se separavam. Diziam, até, que pareciam ter uma cola resistente entre
eles, que nunca os deixava despegar. Uma menina de dez anos que chama o seu avô
de camarada, e um velho de setenta anos que chama a sua neta de sócia.
Como bons parceiros, eles cometiam vários crimes, que diziam ser catastróficos.
Desenhavam figuras abstratas, paisagens, homens e mulheres desconhecidos que
passavam pela humilde casa do velho, crianças em parques, e vários outros
elementos que quando viam os inspiravam. E, em todos esses desenhos, o camarada
ensinava, sempre, alguma coisa, por mais pequena que fosse, à sua sócia.
Passaram-se anos
e, quando a menina olhou para o seu passado, percebeu que tudo tinha valido a
pena. Contemplou a campa do seu avô, ali à sua frente, e chorou. Mas desta vez
chorou de alegria, por perceber o quanto sentia falta do seu camarada, mas
também, por perceber que se não fosse ele, ela, a sua sócia, não
conseguiria chegar até onde está hoje. Uma das mais reconhecidas pintoras a
nível europeu.
Gabriela
Barros, 10ºVB
(1 palavra) Era
(2 palavras) início de
(4 palavras) verão, os dias passavam
(8 palavras) a ser mais longos, mas
nem por isso
(16 palavras) as noites passavam a
ser mais curtas. A cidade começava a inundar-se de adolescentes que, com
(32 palavras) o seu espírito jovem,
procuravam aproveitar ao máximo tudo aquilo que esta estação lhes tinha para
oferecer. As praias começavam a ser mais frequentadas e a geladaria que ficava
perto do areal
(64 palavras) registava, como já era
habitual, maiores lucros nesta mesma altura. Todo este rebuliço provocava em
mim uma felicidade inexplicavelmente estúpida. De manhã, levantava-me cedo, e tinha
como ritual ir até à praia dar um mergulho. Sentir o meu corpo submerso e a
salinidade da água nos meus olhos ao regressar à superfície faziam-me sentir
viva. De tarde, preocupava-me em encontrar-me com aqueles que chamo de amigos.
Íamos até ao centro da cidade e ficávamos horas
(128 palavras) a
fio num café, espaço que frequentávamos com bastante regularidade. Garanto que
se as paredes daquele estabelecimento falassem, sabiam todas as nossas melhores
histórias, todas as nossas maiores preocupações e até mesmo todos os nossos
sonhos. À noite, íamos até um jardim simplesmente para dar continuidade a tudo
aquilo que fazíamos durante a tarde. Nunca nos cansávamos de conversar, e por
muito que as pessoas ao redor achassem as conversas supérfluas, só nós tínhamos
a capacidade de entender que não era bem assim. Aquelas conversas tornavam a
nossa amizade mais orgânica e, como se costuma dizer, é sempre bom ouvir
uma voz amiga. Estes eram os meus dias de glória, os dias em que fui
genuinamente feliz, os dias que sorrio ao lembrar e que vão desaparecendo ao
longo da minha existência.
Mariana
Pacheco, 10ºVC
Sem comentários:
Enviar um comentário