Outros textos do desafio "Um texto cada vez maior"

 Partilhamos mais três trabalhos resultantes do desafio lançado ao grupo do secundário. Boas leituras!


Amanheceu.

O céu

brilhava muito mesmo,

mas eu acordei triste.

Acordei triste por estar sozinha.

Eu e ninguém, apenas eu e

somente eu…eu de novo, eu e

apenas eu…a verter ansiedade e solidão por

estar novamente a viver mais um dia comigo mesma.

Porém levantei-me, apesar de frustrada tinha de aprender a viver.

Fui para a escola com os meus fones postos e um

sorriso forçado. O que me custava era estar nas aulas, porque por

mais que tentasse não conseguia concentrar-me. O meu âmago fragilizado e a minha

consciência não o deixavam. Quando bateram as 12 horas fui almoçar. Apesar de detestar

a escola nova, gostava da hora de almoço, pois era quando podia ouvir novamente música.

Não gostava muito do meu curso… ou pelo menos tinha imensas dúvidas se era o que

queria verdadeiramente…ou o que os outros queriam e me forçavam a gostar… Entrei em aulas novamente.

Nessa mesma tarde, a minha professora de inglês faltou e tivemos uma substituição de uma professora bastante diferente…

Ela tinha gostos não muito comuns, com os quais me identificava bastante, tinha o cabelo vermelho, igual ao meu

e vestia-se maioritariamente de preto e amarelo, que por sinal eram as minhas cores preferidas, de facto era muito bonita.

Começou por se apresentar, disse-nos que se chamava Viollett e que de facto não era uma professora, mas sim, uma psicóloga.

Fiquei em pânico, comecei a suar e as lágrimas vieram-me aos olhos, pois apesar de ninguém saber tinha muito medo de psicólogos.

Acho que a Viollett se apercebeu disso, pois olhava várias e várias vezes para mim, até decidiu dizer algo que precisava de ouvir.

 “Não se preocupem meus caros, só venho aqui falar convosco sobre a VIDA, apenas quero saber o vosso nome e idade e nada mais!”

Quando acabou de falar ela piscou-me o olho, fiquei bastante desamparada e até me questionei se de facto aquela piscadela estranha era mesmo para mim!

O primeiro tempo de aula foi chato e repetitivo, o João, um rapaz da minha turma até tinha adormecido, porém no segundo tempo de aula a

psicóloga falou de assuntos como a ansiedade social, sentirmo-nos sozinhos, pressão familiar, escolar e muito os outros assuntos que me tocam bastante e são importantes falar, acrescentou:

“Às vezes sentimo-nos tristes e solitários… a realidade é mesmo essa, só nós sentimos, porém não estamos... Não podemos ser egoístas connosco mesmo, porque nem tudo é culpa nossa!”

Naquele mesmo instante, foi como se o céu voltasse ao seu verdadeiro brilho, o brilho que eu precisava de voltar a ver… Desfiz-me em lágrimas e a Viollett simplesmente

voltou a piscar-me o olho e saio da sala. O Francisco, um menino que na altura era da minha turma, veio ter comigo e simplesmente deu-me a mão e abraçou-me…

Foi naquele dia que… Faz hoje precisamente vinte e quatro anos que conheci o meu atual marido. Foi exatamente naquele dia que mudei comportamentos e me aceitei, tudo graças a ela…

Quanto à Viollett, não sei o que dela é feito, já a tentei encontrar em redes sociais, tentei ir a antigas escolas onde foi psicóloga. No entanto, a verdade é que nem

eu nem o Kiko a encontrámos, o certo é que até hoje contámos essa história aos nossos filhos e tratámo-la como um milagre. Se és um Viollett ou a própria Viollett... Muito obrigada!

                      Ana Margarida Silva, 10ºVC


Desenho.

No quadro.

Cintilava, pois é especial.

Para a menina de cabelos loiros, quase brancos,

e para o seu avô, que fica encantado com o sorriso da sua neta mais nova.

Sempre, passaram os seus tempos livres juntos, a ver a arte que um dia foi criada por um pintor já não muito conhecido. A sua arte era verdadeiramente amada por aquela criança.

Aquela mesma criança que um dia cresceria e tornar-se-ia uma jovem amante de desenho e pintura e, pelas suas palavras, seria uma grande artista como o seu velho avô que tanto ama e venera. Aquele homem, que tanto ama a sua neta, ensina-a a apreciar a arte que um dia desenhava com tanto apreço e instrui aquela menina loira sorridente, para cada dia ser melhor.

Os dias foram decorrendo e, quanto mais tempo passava, mais aquela dupla se amava e acabaram por se tornar os companheiros de todos os dias. Como parceiros de crime, eles, nunca se separavam. Diziam, até, que pareciam ter uma cola resistente entre eles, que nunca os deixava despegar. Uma menina de dez anos que chama o seu avô de camarada, e um velho de setenta anos que chama a sua neta de sócia. Como bons parceiros, eles cometiam vários crimes, que diziam ser catastróficos. Desenhavam figuras abstratas, paisagens, homens e mulheres desconhecidos que passavam pela humilde casa do velho, crianças em parques, e vários outros elementos que quando viam os inspiravam. E, em todos esses desenhos, o camarada ensinava, sempre, alguma coisa, por mais pequena que fosse, à sua sócia.

Passaram-se anos e, quando a menina olhou para o seu passado, percebeu que tudo tinha valido a pena. Contemplou a campa do seu avô, ali à sua frente, e chorou. Mas desta vez chorou de alegria, por perceber o quanto sentia falta do seu camarada, mas também, por perceber que se não fosse ele, ela, a sua sócia, não conseguiria chegar até onde está hoje. Uma das mais reconhecidas pintoras a nível europeu.

                                                                      Gabriela Barros, 10ºVB


(1 palavra) Era

(2 palavras) início de

(4 palavras) verão, os dias passavam

(8 palavras) a ser mais longos, mas nem por isso

(16 palavras) as noites passavam a ser mais curtas. A cidade começava a inundar-se de adolescentes que, com

(32 palavras) o seu espírito jovem, procuravam aproveitar ao máximo tudo aquilo que esta estação lhes tinha para oferecer. As praias começavam a ser mais frequentadas e a geladaria que ficava perto do areal

(64 palavras) registava, como já era habitual, maiores lucros nesta mesma altura. Todo este rebuliço provocava em mim uma felicidade inexplicavelmente estúpida. De manhã, levantava-me cedo, e tinha como ritual ir até à praia dar um mergulho. Sentir o meu corpo submerso e a salinidade da água nos meus olhos ao regressar à superfície faziam-me sentir viva. De tarde, preocupava-me em encontrar-me com aqueles que chamo de amigos. Íamos até ao centro da cidade e ficávamos horas

(128 palavras) a fio num café, espaço que frequentávamos com bastante regularidade. Garanto que se as paredes daquele estabelecimento falassem, sabiam todas as nossas melhores histórias, todas as nossas maiores preocupações e até mesmo todos os nossos sonhos. À noite, íamos até um jardim simplesmente para dar continuidade a tudo aquilo que fazíamos durante a tarde. Nunca nos cansávamos de conversar, e por muito que as pessoas ao redor achassem as conversas supérfluas, só nós tínhamos a capacidade de entender que não era bem assim. Aquelas conversas tornavam a nossa amizade mais orgânica e, como se costuma dizer, é sempre bom ouvir uma voz amiga. Estes eram os meus dias de glória, os dias em que fui genuinamente feliz, os dias que sorrio ao lembrar e que vão desaparecendo ao longo da minha existência. 

                                                                                          Mariana Pacheco, 10ºVC

Histórias que começam... assim.

 Este foi o desafio lançado: a partir de algumas sugestões de inícios de histórias já existentes, escolher um e desenvolver um texto original. Partilhamos alguns desses textos, realizados por alunos do 2º e do 3º ciclos. Apreciem.


O VENTO DA VIDA

É inacreditável! Quem é que me explica o que aconteceu? Já é o terceiro dia que passo deitado no sofá, e tremo de medo. Não compreendo nada. (in Como se chama, Daniil Harms)

Sinto-me tão sozinho, com medo… É algo que não consigo explicar. Será que estou a morrer? Será que é a última vez que vou respirar, sorrir, estar com a família? Sei que estou velho, mas ainda tenho muita coisa para fazer e dizer aos que mais amo. Não me posso ir assim. Tenho de ter forças e aguentar só mais um pouco.

Ai!… Ainda me lembro daquela altura em que te conheci, daqueles teus olhos azuis que me faziam lembrar o meu tempo de marinheiro, o céu que me guiava para o além… Quando não tinha sono, lembrava-me do teu riso, dos teus sonhos, das tuas mãos rugosas mas suaves. Recordo-me de quando a Clara, a nossa neta, nasceu… O tempo passou tão rápido… Já tem oito anos! Tem os teus traços, sabias? Sei que o tempo não te deixou vê-la crescer, mas ela pergunta muitas vezes por ti de como eras e de como serias se estivesses cá. Ela tem uma paixão por ti tão grande!... Sinto saudades… Saudades de ver a família aqui, todos a comer, a sorrir… Agora sou só eu. De vez em quando aparece aqui gente, mas a maior parte do tempo que passo é sozinho, a falar para ti como se estivesses ao meu lado. É uma idade bonita… mas triste. A memória e a alma é tudo aquilo que resta neste corpo velho e enferrujado… Ainda não sei o que se passa, não entendo nada, o porquê de estar neste estado há três dias, sem poder comer nem pedir ajuda, pois sei que ninguém iria ouvir.

Já estou cansado de falar. A boca começa a ficar seca e o meu respirar está a abrandar cada vez mais. O que menos esperava está prestes a chegar, mas ao mesmo tempo quero ir para te ver, para falar contigo, abraçar-te, chorar e rir. Digo um adeus a todos os que amo, que a saudade vai ser imensa e a dor de vos deixar a chorar e de vos ver vestidos com cores escuras vai partir-me o coração em pedaços. Mas a escolha não e minha. E vou dizer olá a alguém que espero ver há já algum tempo. Adeus a todos vocês… Com um enorme carinho do vosso avó e pai… Manuel.

                                                                                         Ana Rita Rocha, 9ºVC

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A HISTÓRIA DO PEQUENO POLEGAR

   “Mal sabia o pequeno Polegar, quando, abandonado na floresta, espalhava pedrinhas para assinalar o seu caminho, que era seguido por uma avestruz que devorava as pedrinhas uma a uma. A verdadeira história é esta, e foi assim que aconteceu...” (in Histórias para meninos sem juízo, Jacques Prévert)

   O pequeno Polegar teve uma grande discussão com os seus irmãos - o Indicador, que trabalhava na receção da Escola dos Dedinhos a contar os alunos, o Mal Educado, que era o irmão do meio, o Anelar, que era o mais velho e já estava casado, e o Mindinho, que era tão novinho que ainda nem sequer sabia falar. A discussão é um pouco encadeada, pois os irmãos nunca se deram bem, e os pais, a Mãe Direita e o Pai Esquerdo, discutiram por causa deles, atribuindo os problemas de educação um ao outro:

   - A culpa é tua, pois enquanto eu trabalho no barbeiro com a minha máquina corta-unhas tu estás a ver as telenovelas no sofázinho e os nossos dedos andam á batatada! – insulta o Pai Esquerdo.

   -Tu falas muito, mas enquanto eu cuido dos dedos, tu em vez de trabalhares andas a dedilhar -namorar- com a Srª. Ambidestra!! Depois os filhos seguem a má educação do Pai, claro!!! - defende-se a Mãe Direita.

   Também os filhos discutem entre si, devido à discussão dos pais:

   - Estás a ver? A culpa é tua, ó Mindinho, tu estás sempre a chorar! – reclama o Mal Educado.

   - A culpa é de vocês todos, que enquanto eu estou em casa da Menina Anelar- a mulher do Anelar- vocês estão cheios de ciúmes…- ia dizendo o Anelar. Porém foi interrompido.

   - Está calado, ó velhote, enquanto estamos aqui em casa tu estás a dedilhar com a Menina Anelar em vez de ajudares a mãe, ó inteligente! – diz o pequeno Polegar que já não aguentava que o Anelar pensasse que era mais inteligente por ser mais velho.

   Ora, quer pelos irmãos, quer pelos pais, o insulto foi muito levado a mal, e foi castigado. Não consegui perceber por que é que foi castigado, se pelo barulho, se pelos risos dos irmãos. O que é certo é que ele mal percebeu que ia ser castigado pegou na sua mochila, que tinha o lanche da escola, e fugiu para a floresta, com um objetivo: ir viver para a Mansão Polegares, uma lenda na qual todos os Polegares (sim, apenas os Polegares) acreditam, pois acreditam que tudo o que lhes dizem é fixe.

   Agora, porque foi ele para o meio de uma floresta apenas com um lanche da escola, à procura de uma mansão que nem sequer sabe se existe, apenas por causa de um castigo? De novo a história está encadeada. Sempre que há problemas em casa, os Polegares são culpados pelos pais, e o nosso Polegar não era diferente dos outros. Farto dos problemas, decidiu ir em busca da Mansão Polegares a fim de, claro, ter uma vida livre de qualquer culpa. Tal como diz a Lei dos Polegares que residem na mansão: «A Mansão Polegares não tem nem tribunal nem sequer a palavra culpa.»

  Bem, agora vamos descobrir a história desta aventura de 4 dias, através do diário do Polegar. Espero que gostem! Encontramo-nos no final da história. Quer dizer… quando os apontamentos do diário acabarem.

«Diário do Polegar»

«Dia 1

   Dia da fuga e do início do rumo à Mansão Mindinhos. Vou pela Floresta dos 7 Receios até á mansão, deixando pedrinhas pelo caminho, desde o início da floresta até lá, para não me perder.»

Upps!

   Esqueci-me de vos dizer que os apontamentos estão corrigidos pois ele ainda não sabe escrever bem. Anda no 1ºano e ainda só tem 6 anos. Pronto, é a única informação necessária neste momento.

«Dia 2

   Acabou-se o lanche, mas encontrei umas bananas! Já vou a meio do caminho, pois apanhei boleia nas lianas dos macacos e no dorso do urso, e agora vou ver se arranjo boleia no dorso da chita.

Dia 3

   Têm andado uns helicópteros à procura de um Polegar na Floresta. Eis o que dizia no helicóptero: POLEGAR VEM PARA CASA NÓS PERDOAMOS-TE. Será que há outro Polegar na Floresta ou andam à minha procura? Bem, pelo sim pelo não, vou continuar o meu caminho pelas lianas, pois estou mais escondido debaixo das árvores.

Dia 4

   Estou quase a chegar à …»

   Bem neste momento o nosso Polegar foi resgatado pelos seus irmãos, que estavam no helicóptero, mas como estavam fartos dele, sem os pais repararem, cortaram a corda, abandonando o Polegar na Floresta dos 7 Receios. Quando deram conta (os pais) perguntaram aos filhos:

   - O Polegar??

   - Caiu - diz o Anelar, que o abandonou por vingança.

   Sendo o mais velho, os pais acreditaram nele.

   Enquanto procuram o nosso pequeno Polegar, este encontra as suas pedras e segue a sua rota até á mansão, marcando de novo com pedrinhas o seu caminho. Porém agora não temos mais acesso ao diário, pois a caneta do Polegar acabou.

   Segundo a avestruz, que foi mandada pela família do Polegar para o encontrar, o relato é o seguinte, mesmo com palavras dela:

   - Ia procurando-o e pelo caminho encontrei umas pedras. Bem… muitas pedras. Quando dei conta, havia uma fila delas. Não resisti à tentação, tive de as devorar. Caso não saibam, tenho uma doença - a devoritite litósfica - não deve ser nada, pois procurei na minha enciclopédia e nada encontrei. E quando dei conta ia na 543ª pedra, quer dizer, pedrinha, pois era tão pequena… Enfim, decidi pegar no meu saco e guardá- las para quando encontrasse o Polegar e viesse embora. Como me disse o meu pai, «Hoje comes, guardas para amanhã, pois não sabes o que aí vem». Ia cada vez mais perto de ver o fim das pedrinhas, quer dizer, do circuito das pedrinhas. O meu relógio já marcava 79 km! Chegou o fim das pedrinhas. Encontrei um Polegar e perguntei se era o Polegar. Que pergunta estúpida, visto que ele era um polegar. Também ele ficou confuso, então expliquei-lhe tudo. Confirma-se: Polegar Direita da Esquerda encontrado. Levei-o até casa em quatro dias. Coitadinho… estava tão cansadinho! Tive pena dele, ele…

   - Siga com a história, ignore os detalhes e vá direta ao assunto! – interrompi. Não aguentava ver aquela avestruz engolidora de pedras chorar, parecia que até as lágrimas eram de pedra.

   - E ele pelo caminho contou-me o porquê de fugir de casa, que é…

   - Já sei, li o diário que ele me mostrou – interrompi de novo. Não quero que leiam um testamento, mas sim uma curta história, comparada às outras de 134 páginas, e daí em diante… Enfim, vamos ao assunto.

   - Entreguei-o aos pais, teve um castigo, mas não fugiu de casa. Um castigo não muito duro - teve que limpar e consertar tudo o que ao sair de casa e ao fugir derrubou, dado que ninguém limpou, porque estiveram à procura dele. Já o Anelar…foi preso por 12 anos, por abandono intencional de um menor, e por mentir aos pais.

   Bem, eu abreviei, pois, a avestruz é muito ligada a detalhes, contou-me todo o julgamento, vejam só.

   Depois de todo este insólito, tudo ficou resolvido e algo mudou. O Governador Braço alterou a Constituição, criada em 1900 a contar pelos dedos das mãos, mudando a Lei nº143 artigo 89 que passou a dizer que os Polegares são tantas vezes culpados quanto os outros dedos, ou seja, os Polegares não deverão ser culpados e julgados sem devidas razões, e os castigos deverão ser iguais aos dos outros dedos.

   O Polegar tirou boas notas na escola, doutorou-se em Direito e é neste momento considerado o melhor juiz da Cidade dos Dedos, sendo o mais justo e fiel à constituição da Cidade. Casou-se com a Polegar com Unhas de Gel e teve um filho, também ele polegar, que se chama Polegar com Unhas da Direita. Hoje tem uma vida feliz, com a sua esposa e o seu filho.

     E pronto, aqui encerro a minha fábula/conto/história, e neste finalzinho, para alimentar a vossa curiosidade, digo-vos só que a história de fugir de casa repetiu-se, mas desta vez para ir ter com uma menina polegar - a Polegar Unhas Rosa. E quanto à Mansão Polegares, é o lugar onde nos sentimos bem, aconchegados, acompanhados da nossa família. A nossa casa.

                                                                                                   Henrique Ferreira, 8ºVB

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“Aquele leão era mesmo convencido.

- Sou rei dos animais – rugia, sentado no rochedo que lhe servia de trono.

E os bichos encolhiam-se porque ele é que mandava naquelas terras como antes tinham mandado o seu pai e o seu avô.” (in O livro das datas, Luísa Ducla Soares)

O LEÃO CONVENCIDO 

Há muito, muito tempo, havia no meio da savana um leão que era muito convencido. Estava convencido que iria ser rei para sempre, e rugia no seu trono:

- Sou rei dos animais! Sou eu que mando nestas terras, tal como mandaram o meu pai e o meu avô!

E é claro que todos os bichinhos se encolhiam porque sabiam que, naquela altura era ele que mandava ali, e quem não obedecesse às suas ordens era logo condenado à prisão.

Ultimamente, o rei estava a ser mesmo muito mau com os seus súbditos. Então, uma noite, um grupo de hienas roubou-lhe sorrateiramente a coroa enquanto ele dormia. Mas, quanto elas se preparavam para fugir, um guarda búfalo apanhou-as e as hienas foram presas. 

Mas haveria eleições em breve. O Tigre,  que era um candidato para a liderança, quando vieram as eleições, ficou logo em primeiro na primeira votação. O leão sabia que tinha de fazer algo para se queria continuar a ser rei. Pensou bastante e soube o que ia fazer. Chegou ao palco e disse:

- Eu apercebi-me do meu erro...  

Os animais pensaram que o rei ia prometer que não ia mais ser mau para os outros animais, mas ele acrescentou:

 - EU VOU COBRAR MENOS NOS IMPOSTOS!

E já sabemos quem ganhou as eleições: o Tigre, porque os animais não queriam saber do dinheiro, queriam um rei que fosse bom para os animais, que não gritasse a toda a hora. Queriam um bom rei.

Quanto ao leão…. Bem, este aprendeu a lição: pensar duas vezes antes de fazer o que quer que seja, ou sofrer as consequências.

                                                                                                      Tiago Costa, 5ºRC

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É inacreditável! Quem é que me explica o que aconteceu? Já é o terceiro dia que passo deitado no sofá, e tremo de medo. Não compreendo nada. (in Como se chama, Daniil Harms)

Esta pandemia entrou na minha vida sem eu pedir, e não me deixa descansar. Estou sempre á espera de notícias más, não posso conviver com as pessoas que mais gosto e admiro, como é o caso dos meus queridos avós, das minhas amigas do andebol, da escola, da catequese… Enfim, tudo mudou.

Vivo com a constante preocupação de desinfetar as mãos, de colocar a máscara de forma correta… Que triste é esta nova realidade em que vivemos!

Como uma criança de 11 anos que sou, digo-vos que a Covid-19 mudou a minha rotina. Contudo, também me deu a oportunidade de estar mais com a minha irmã e com os meus pais e de passear a pé pelos montes perto de minha casa.

Decidi sair do sofá, deixei de ter medo e parti à aventura com a ajuda do meu pai. Construí um circuito pedonal que termina num baloiço com vista para a minha cidade. Calcei as galochas, vesti a minha pior roupa e confesso que me diverti muito. Entre lama e ramos no chão, as pedras nas galochas, os sorrisos eram o mais importante e constantes. Tentava ultrapassar cada adversidade que encontrava e, no final, o desafio estava concluído.

Matilde é o meu nome, 11 a minha idade, coragem a minha virtude e Covid 19 a minha realidade.

Deixemos os nossos olhos sorrir.

                                                                           Matilde Nogueira, 6ºRB

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As aventuras de Jorge

 

“Ao canto, junto à janela, sentado no sofá de pele preta, o último cliente fita as mãos, postas em concha no regaço. Tem os ombros descaídos e a cabeça baixa; mal se dá por ele na sala de espera ampla, neste fim de tarde cinzento.” (in Como outro qualquer, Ana Saldanha)


O seu nome é Jorge, ele parece estar triste com algo, mas ninguém repara… Ele está à espera para cortar o cabelo, quando uma mulher muito feia sai de uma salinha e diz:

            — Tu, aí no canto, entra!

Jorge entrou e viu uma sala negra, com paredes cobertas de ingredientes estranhos e um caldeirão no centro.

— E…eu pensava que vinha cortar o cabelo, lá fora diz que ist…

— Eu sei o que diz! Mas não te mandei embora porque sei que precisas de alguma coisa! Algo te incomoda, algo te deixa triste…

— Tens razão, é que parti à aventura recentemente aqui em Itália, não tenho como voltar para casa! Só queria voltar para casa! Voltar a ver a minha família em Portugal!

Então, eu concedo-te esse desejo! Entra! disse a mulher feia apontando para o caldeirão, sorrindo maliciosamente…

A princípio Jorge estranhou ter de entrar no caldeirão, mas lá aceitou. A senhora murmurou umas palavras inaudíveis e o caldeirão sugou-o. Passados alguns segundos, deu por si numa gruta, em qualquer parte do mundo que ele não conhecia.

Onde estou?

Estás no Canadá respondeu uma voz do outro lado da gruta.

— Quem está aí? — perguntou Jorge virando-se lentamente e vendo um par de olhos incandescentes.

— Sou o Pedro — disse avançando, mostrando-se, um urso grande e castanho — Espera, és um humano? Não costumo ter visitas destas por aqui!

— E…eu sou o Jorge e sim, sou um humano. Acho que fui enganado por uma senhora que prome…me…teu que me levava a casa… — gaguejou ele, recuando.

— Prazer em conhecer-te Jorge. Não precisas de fugir que eu não te faço mal, ao contrário de muitos outros. Queres chá?

— Até que não vinha a calhar mal, pode ser, está um frio desgraçado!

— É caso para dizer, bem-vindo ao inverno do Canadá! — ironizou — Que é que estavas a dizer sobre uma tal senhora que te enganou?

— Bem, eu fui a uma suposta barbearia, para cortar o cabelo. Eu era o último cliente do dia e ela mandou-me entrar. Quando eu entrei, ela disse que tinha reparado que eu estava triste e eu disse que queria voltar para casa. Depois, quando dei por mim, estava aqui!

— Bruxas… — reclamou, ao mesmo tempo que servia o chá — É impressionante, elas enganam as pessoas e levam-nas para lugares onde acham que vão destruí-las! Enganou-se em relação a mim! Não sou esse tipo de urso!

— Como é que sabes tudo isso sobre as bruxas?

— Bem, tenho de admitir que quando era pequeno abri a porta da casa de um humano. Lá dentro tinha um jornal e eu li um artigo sobre as bruxas, mas já foi há tanto tempo que ninguém, além de mim, se deve lembrar.

— Será que me podias ensinar mais sobre elas?

— Claro! Elas usam sítios disfarçados como barbearias e cabeleireiros para atrair as pessoas e mandam-nas para lugares onde acham que vão destruí-las.

— Essa parte eu já percebi.

— Elas querem destruir as pessoas porque querem que o mundo seja dominado por bruxas!

— Ah! Mesmo assim continua a ser estranho…

— Olha, tu não querias voltar para casa? Mas onde é a tua casa?

— É em Portugal.

— É um país muito bonito! Vi fotos numa revista. Se quiseres podes apanhar um barco para lá. Vai partir um amanhã!

— Eu quero ir para casa, mas quero dar uma lição àquela bruxa primeiro!

— Boa! É esse o espírito! Mas onde é que ela te fez isso?

— Foi em Itália.

— E o que é que tu estavas lá a fazer?

— Eu parti à aventura, e depois não tinha como voltar para casa!

— Está bem, está bem! Daqui a três dias parte um navio para Itália.

— Como é que sabes os horários dos navios todos?

— Eles anunciam na rádio para as pessoas saberem e eu tenho um rádio.

— Até lá posso ficar aqui?

— Claro! Fazes-me companhia! — respondeu o Urso Pedro, animado.

No dia seguinte, acordaram cedo para preparar o pequeno-almoço. Pedro cantava alegremente enquanto fazia as suas fabulosas panquecas.

Quando acabaram de tomar o pequeno-almoço, arrumaram a loiça e começaram a pensar num plano para neutralizar a bruxa:

— Eu acho que devíamos empurrá-la para dentro do próprio caldeirão e mandá-la para cá. Os meus amigos tratam do resto! — sugeriu o Pedro.

— Concordo. Mas como? — questionou o Jorge.

— Elas têm a poção já preparada, é só dizer o lugar: Canadá.

— Deixa-me adivinhar, aprendeste no jornal?

— Sim… — disse, fazendo Jorge rir.

Dois dias se tinham passado e o plano estava decidido, Jorge ia para Itália no navio e ia mandar a bruxa para o Canadá. Depois ele ia fazer evaporar a poção e ia para casa noutro barco que ele descobrisse.

Jorge entrou no navio às escondidas de todos, escondeu-se no meio da mercadoria e ficou lá. De vez em quando ia roubar um pouco de comida porque já estava esfomeado.

Quando desembarcaram, foi devagarinho para ninguém o ver e começou a procurar a maldita bruxa.

Passados dois dias, finalmente encontrou a bruxa na sua “barbearia”. Atirou-a para dentro do caldeirão com toda a força que pôde e disse:

— Canadá!

Rapidamente a bruxa foi sugada e transportada para o Canadá, onde os amigos do urso Pedro estavam à espera dela, pregando-lhe um susto e fazendo-a prometer que nunca mais ia tentar destruir ninguém.

Jorge voltou para casa, são e salvo, noutro navio, e viveu feliz para sempre em Portugal, com a sua família!

                                                                                                     Filipa Dias, 6ºVA




Textos cada vez maiores...

 O desafio era este: começar com uma palavra e ir dobrando o seu número, num exercício desbloqueador da escrita. Os resultados surgiram, com a qualidade e a criatividade que podem comprovar. Parabéns a estes nossos participantes do ensino secundário!


Francisca Alves, 10ºVA

Acordou.

Quem? Onde?

Lentamente, abriu os olhos.

Habituando-se à luminosidade, começou a observar a paisagem.

Um bosque. Sentia a erva com orvalho a roçar-lhe os tornozelos descalços; o vento sibilava, misterioso.

Ouvia o cantar dos pássaros ocultos nas copas das árvores verdejantes. Ouvia também outro som, que rapidamente reconheceu como sendo o de água corrente. Um rio? Curiosa, caminhou em direção ao som.

O trilho era plano, a relva e vegetação cuidadas como uma espécie de jardim. Não havia uma única nuvem a manchar o azul do céu; o sol brilhava, radiante. Uma paisagem tão perfeita e pacífica que não se surpreenderia se lhe aparecesse uma fada. Enquanto tinha estes pensamentos, o som da água tornava-se mais e mais intenso. Mas quando chegou ao riacho, parou, chocada.

À esquerda o terreno subia, e descia para a direita. E, no entanto, o rio corria em direção às colinas. Moveu-se lentamente em direção à água cristalina. Viu o reflexo de uma bela jovem, com cabelo loiro cuidado, cortado pelos ombros, uma franja reta. Foi rapidamente interrompida por um barulho vindo dos arbustos. Avançou, cautelosa; e, quando estava a um passo da vegetação, algo saltou dela diretamente para a sua cabeça. Ela gritou e deu um salto para trás. A medo, tocou no bicho, ainda em cima de si. Tinha pele macia, com pelagem curta e sedosa. Vendo que o toque não produzia resposta, agarrou-o com a outra mão e levantou-o. Era leve, algo mole e muito fofo. Pousou a criatura no chão, com apreensão cuidadosa, e observou-a.

De violenta e assustadora, esta não tinha nada. Na verdade, era bem adorável: olhava-a com curiosidade uma espécie de gato preto, com pelo mais raro e curto que o normal, e uns grandes olhos sonhadores. Que rapidamente ganharam um tom irritado. “O quê, nunca viste?” - para surpresa da menina, era o gato que falava. Olhou-o, pasmada. “Segue-me.” – replicou o felino, com um suspiro. Começaram a caminhar em direção às colinas; o gato ia-se explicando. “O meu nome é Ben. Deves estar a perguntar-te que sítio é este. Estamos no Bosque Desencantado, e este é o Rio Contrário. Se seguirmos a corrente durante alguns quilómetros, chegamos à Gatunlândia, a cidade dos Gatos Falantes, a minha espécie.” Ben contava à menina a história da cidade, como os seus antepassados tinham conquistado aquele pedaço de terra num fim-do-mundo e transformá-lo numa cidade cosmopolita cheia de luz e de vida. “O nosso líder, Dante Felinstein, irá explicar-te o motivo de estares aqui, mas ele é um pouco… err… bem, já vais ter o prazer de o conhecer. Já estamos quase lá.” E estavam, de facto. Já se começavam a ver luzes e colunas de fumo ao longe. Mais alguns minutos a caminhar e a menina começaria a ter uma visão mais nítida da cidade: arranha-céus de chapa erguiam-se, luminosos, com uma beleza algo brutesca, cercados por veículos aéreos e vapor. Tudo era vapor, luzes e chapa: o perfeito exemplo de uma cidade steampunk, diretamente saída de um conto distópico. Via centenas de Bens com óculos de aviador e gabardines.

Estes conversavam e conduziam mini aeroplanos a vapor, aterrando em cervejarias publicitadas por enormes sinais vermelhos, piscando incessantemente. Tubos de cobre e passadeiras hidráulicas serpenteavam por tudo o que era espaço livre na urbe. Nestas, trabalhadores cansados comutavam do trabalho para casa, depois de um longo dia a produzir peças metálicas para máquinas a vapor em máquinas a vapor metálicas. A menina estava demasiado imersa nos sons e luzes da cidade para refletir sobre a sua assustadora falta de floradd. Mal pôs pé debaixo do enorme letreiro de entrada da Gatunlândia, Ben e a companheira foram recebidos por uma pequena aeronave, com asas de couro, conduzida por um robôzinho engraçado, com uma lâmpada em vez de cabeça. “Entrem.” – soou uma voz metálica pelo altifalante da avioneta. E assim fizeram; em poucos minutos, chegaram ao topo do maior arranha-céus de toda a cidade. Aterrando numa plataforma, um gato-mordomo recebeu-os e conduziu-os a uma pequena sala de espera no seu interior. “Por favor sentem-se. O Dr. Felinstein está à vossa espera.”. Ben pareceu nervoso. De dentro do gabinete, vinham berros; ouvia-se vagamente o que parecia ser um chefe muito zangado a despedir um funcionário muito assustado. E de facto, segundos depois, a porta bateu e uma gata chorosa saiu. “SEGUINTE!” – berrou a voz zangada. Ben e a menina foram conduzidos para dentro do gabinete. Sentado atrás de uma secretária em forma de báu gigante, estava um gato grande, gordo, com uma expressão irritada e pelo malhado como o de um tigre. Fez sinal para se sentarem. Falava rápido, numa voz rouca e grotesca. “O meu nome é Dante Felinstein – para ti, Senhor Felinstein – e sou o presidente da Gatunlândia. Este é o Ben – já conheceste o Ben? - a quem eu ordenei que te raptasse e trouxesse até aqui.” “Raptar? Como assim rap-“ – a menina falava pela primeira vez, numa voz doce e assustada. “Está calada e deixa-me falar. Precisava de mais humanos para operar as grandes máquinas, por isso mandei raptar… talvez sessenta miúdos. Como tu. O teu nome era Mariana e vivias numa casa pobre no Porto. Agora és a operária número 5548.” Ben estendeu-lhe um fato de macaco cinzento-rato e indicou-lhe a porta, murmurando um “desculpa”. Os meses seguintes passaram rápido: uma revolução começava a surgir no seio da fábrica de peças hidráulicas, entre Mariana e as outras crianças. Um dia, decidiram por o seu plano em prática: não ir trabalhar. Enquanto os guardas estavam à sua procura, as crianças voavam até ao topo do arranha-céus de Dante, onde, evitando mordomos e soldados, o raptaram, e abandonaram no meio do Bosque Desencantado, salvando a Gatulândia da sua tirania. Gratos, os gatos pediram a Mariana que ficasse e liderasse a cidade. “Não posso – tenho de voltar para casa. Ben, apesar de tudo, sei que tens bom coração. Por favor, toma o lugar de presidente. Por mim.”. E assim fez. Claro que tudo isto aconteceu há muito tempo, e já ninguém vivo na Gatunlândia se lembra de Mariana – mas a sua estátua de cobre no coração da cidade torna eterna esta história.

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Joaquim Leal, 11ºVB


Chove…

Água cai…

Uma localidade ou acontecimento?

São as duas: uma localidade e um acontecimento.

Não sabiam? Não é freguesia, apenas um lugar da freguesia de S. Mamede de Recezinhos, Penafiel.

Estas duas palavras - “Água cai” - em conjunto têm vários significados. Estamos em Portugal e, por isso, estes são apenas dois deles, sendo um deles bastante desconhecido para algumas pessoas, não é verdade!?

O que é que eu estava a dizer…!?

Já me lembro, estava a falar do tempo. Tenho de arranjar motivo de conversa, pois nunca sei o que dizer quando estou a falar com alguém, ou pelo menos a tentar… Não sou daqueles jovens extrovertidos e muito sociáveis. Prefiro adquirir conhecimento a descobrir coisas, fisicamente ou virtualmente (internet, Youtube, pois não tenho nenhuma rede social).

Tendo em conta que estou a falar dos meus gostos, vou dar-me a conhecer mais um pouco.

Eu considero-me um pouco diferente desta geração a que pertenço. Para além de ser menos tecnológico, e esta é a principal diferença, eu gosto muito de construir miniaturas de veículos e muitas outras coisas, com os mais diversos materiais, mas essencialmente madeira e ferro. Gosto de consertar eletrodomésticos, máquinas elétricas, a combustão, veículos… tudo que eu e as minhas ferramentas permitirem. E também gosto de ler e de escrever poemas, apesar de que desde o fim do 9º ano não tenha tido muita inspiração para tal.

Espero que tenham ficado a conhecer um pouco sobre mim, e se o suposto era escrever uma história, considera-se isto um pouco da minha.

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Diogo Sousa, 11ºVD


Anoiteceu.

Tudo mudou,

algo inexplicável havia acontecido.

Ninguém sabia o que era ou quem era,

todos sabiam que algo não estava certo e que o que aconteceu iria mudar o mundo.


No dia 17 de abril de 109, por volta da 1:43 da manhã, entrou na atmosfera algo nunca antes visto e que não havia sido detetado pela WSO (World Space Organization), aquela

que era a mais sofisticada e mais avançada organização da galáxia. Esse acontecimento viria a mudar a história, e ganhou até o nome “The first cosmic contact”, o próprio nome diz tudo. Nesse dia contactamos pela primeira vez com aqueles que viriam a ser os nossos novos amigos. Hawkes de nome, tinham várias parecenças com uma ave que havia entrado em extinção na Terra,

o falcão - daí o nome Hawkes. Estes não sabiam comunicar através da nossa língua, e foram precisos anos para arranjar um meio para comunicarmos com eles. Foi assim que surgiu o “ MockingBird “, um dispositivo que nos permitia fazê-lo. Este aparelho veio mudar várias coisas na nossa vida, desde a descoberta que estes eram de outra galáxia até mesmo à descoberta de outros tipos de vida no universo.
Atualmente, 22 de maio de 158, podemos observar a cooperação entre Hawkes e humanos, e já conseguimos descobrir mais sete diferentes tipos de seres extraterrestres. Acredita-se que em 200 já sejamos capazes de comunicar com todos, isto tudo graças aos Hawkes, uma vez que, mesmo que por engano, embateram naquele que é o famoso

Planeta

X.

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(Em breve, partilharemos outros textos do desafio)

Expressão de sentimentos

 Mais um texto com "palavras (des)confinadas" da Gabriela Barros, do 10ºVB. Uma bela partilha.

 Gostaria de dizer que sei me exprimir por palavras, tanto escritas como ditas, mas, infelizmente, não sei. Tento dar o conhecimento dos meus sentimentos por atos, que muitas vezes não são reconhecidos, por serem pequenos.

Mas o que posso eu fazer? Tento escrever, o que me ajuda um pouco. Tento dançar, mas sou péssima. Tento cantar (nem falo do quanto se assustariam ao ver-me fazê-lo). Porém, quando tento demonstrar os meus sentimentos por atos, não sou muito bem recebida. Porque a verdade, que custa a muitos aceitar, é que nós, seres humanos, gostamos de palavras bonitas, gostamos de ouvir o que nos agrada, mesmo quando as palavras não são verdadeiras.

Sentimentos. Muitos, como eu, não os conseguem exprimir, pois é difícil. É realmente difícil. E, um dia, devido a essa dificuldade, vamo-nos arrepender de não os expressarmos, de não dizermos o que realmente sentimos. E poderemos perder para sempre essa oportunidade, pois a vida não espera por nós e pelas nossas complicadas emoções. O tempo passa como um sopro e, quando percebemos, já não podemos fazer mais o que dizíamos que faríamos.

Gostaria, por vezes, de ser mais fácil. Gostaria de conseguir dizer aos que mais amo que os amo. Mas proferir esta palavrinha, com apenas duas vogais e uma consoante, é mais complicado para uns do que para outros. Somos todos diferentes. Com as nossas personalidades complexas. Com os nossos pensamentos estranhos. Com as nossas formas invulgares de nos expressarmos. Com os nossos sentimentos a ferver a todo vapor, como um vulcão prestes a entrar em erupção.

  Por isso, escolhi a música. Não para a tocar, já que não o sei fazer. No entanto, escolhi-a como aliada dos meus sentimentos, dado que é a única que parece compreender-me. A música deixa-me ser livre. Vê-me a dançar e, por mais horrível que seja a fazê-lo, não me julga. Ouve-me a cantar, desafinadamente, mas a cantar como se fosse uma profissional. Acompanha-me nas minhas tentativas de escrever alguma coisa que preste. Ela, certamente, é a minha companheira quando mais preciso. A única que sei que me vai compreender verdadeiramente. A música é a arte dos sons e dos ritmos e é, de certeza, a arte que mais aprecio.                                      

                                 Gabriela Barros, 10ºVB

Se fosses... querias ser?

      Partilhamos com todos alguns dos textos elaborados pelos alunos do 4CVA, a partir do poema “Se fosses… querias ser?”, da obra Versos de Cacaracá, de António Manuel Couto Viana. Apreciemos tanta criatividade e talento poético!




(Podem encontrar a digitalização dos trabalhos originais, com mais alguns textos, na barra lateral direita.)

Palavras (des)confinadas...

 Neste início de ano tão atípico, partilhamos convosco dois textos - pensados, sentidos, registados em palavras (des)confinadas. Obrigada, Francisca. Obrigada, Ana Rita. Não deixem de escrever. 


        Esta será a provavelmente a única vez que falarei assim tão abertamente sobre este assunto. Esta história, relato, ou como lhe quiserem chamar, passou-se há cerca de seis anos.

        Eu sempre fui muito ligada a todos aqueles que me querem bem. E, como tal, nunca fui capaz de me imaginar sem eles. A minha avó foi sempre aquela pessoa que me apoiou em tudo, esteve sempre presente, tal como está neste momento, está dentro de mim.

        A minha avó era a pessoa mais bela, nunca a vi sem a sua sombra negra, que lhe destacava aqueles olhos verdes, ou sem o seu cabelo perfeitamente apanhado. Aprendi tanto com ela! Nomeadamente sobre “ser uma lady”, era como ela dizia. Sempre que saio de casa sem me arranjar, oiço a sua doce voz:

       - Francisca, sê sempre bela, olha para a vovó! – E dava a sua voltinha teatral, que eu dava tudo para voltar a ver.

       A nossa última conversa foi o momento mais marcante da minha vida. Como era habitual, aos sábados ia com ela fazer as suas unhas:

        - Avó, posso fazer as unhas como as tuas? – perguntei.

        Com um entusiasmo, que foi digno até de palmas, ela disse:

         - Claro, meu amor, estive sempre à espera que mo pedisses.

         Passamos a manhã no salão, saímos de lá como novas. Quando íamos almoçar tive a necessidade de me abrir com ela:

          - Avó, é verdade que um dia me vais deixar?

        - Francisca, meu amor, a avó vai estar sempre presente! - e cortou essa conversa por aí. Nunca entendi o porquê de ela não me falar sobre isso, até hoje.

        Hoje, de prenda de aniversário, recebi a carta que ela tinha escrito. Chorei, sorri e relembrei, nomeadamente a história que acabei de contar. “Vou estar sempre presente”, começou ela, e por entre gargalhadas e lágrima terminou com “ O mundo é teu, pequena”.

            Não ficou nada por dizer, mas havia muito para contar.

                                                                                                                      Francisca Torres, 9ºVB



O amor dentro de uma garrafa

    Num dia bastante ensolarado estava sentada com a minha avó a ver o pôr-de-sol. O mar estava calmo e fazia música quando batia ligeiramente nas rochas. Aquela belíssima paisagem era como uma atuação da natureza para alguém sem identidade.

    Mais tarde, com a maré a baixar, perto da costa vi uma garrafa de vidro meia coberta pela areia. No início, tive receio de me aproximar, mas quando prestei atenção vi que tinha um papel e parecia ter algo escrito. Peguei nela, fui ter com a minha avó e mostrei-lhe o que tinha encontrado.

     Abrimos e li o que lá estava, mas as palavras estavam cortadas pela metade. Estava escrito de uma maneira que não entendia: era uma letra estranha e o papel estava escuro, gasto. Parecia que muitos anos tinham passado por ele. Entreguei-o à minha avó. O rosto dela transmitia vários sentimentos ao mesmo tempo, de tal forma que não dava para entender ao certo. Questionei o porquê de várias expressões sentimentais e perguntei. Disse-me que era uma carta que esperava há muito tempo do seu amado que há muitos anos teve de partir para longe. Na carta estava escrito:

   “Meu amor, temo trazer uma notícia má, aquela que só no momento nos faz perceber que a vida só é importante com os que mais amamos e como é bom aproveitá-la. Posso dizer que estou a morrer, tenho dias até conhecer um outro mundo. Aproveitei e escrevi esta carta antes que fosse tarde demais. Minha querida Ana, penso que não é esta doença que me leva, mas sim a saudade de ti. Não chores. Se sentires a minha falta sorri quando olhares para uma foto ou quando tiveres alguma lembrança nossa. Amo-te, Ana, até um dia, minha querida….”

    Nesse momento não sabia o que dizer, o sentido de enviar a garrafa pelo mar era por ser uma memória das suas infâncias, pois faziam o mesmo no rio para se comunicarem. Era um gesto romântico, o amor entre os dois era repleto de memórias de felicidade.

                                                                                                                       Ana Rita Rocha, 9ºVC